..."Um susto! É claro que sei quantos anos tenho, marcados no meu registro de nascimento e na contabilidade dos calendários. Mas esse cálculo dos dias e dos anos está muito longe de qualquer experiência de tempo.
Há um contraste, na verdade entre a percepção do envelhecimento e o sentimento de vida jovem que me habita. Estranho sempre que me chamam de senhora ou quando me vejo nos vídeos e nas fotografias.
Difícil, em circunstâncias como essas, não nos fazermos a pergunta sobre quanto tempo já vivemos e por quanto tempo ainda podemos durar. Porque o tempo a gente mede mesmo é com a própria vida.
Filosofos, como Heidegger, consideram que: "O homem é um ser para a morte."
Eu, no entanto, acredito que ela é apenas uma contingência, uma condição do nosso ser.
O espanto com o tempo deveria ser um estímulo para escolhermos como é melhor viver ou como emprestar à vida a nossa própria cara. Em outras palavras, como queremos gastar o tempo vivo, não que temos, mas que somos.
O receio de termos gasto nosso tempo com o que pouco importava, com besteiras, com o que não era do nosso próprio interesse.
Essa é tambem a razão de muitas vezes, pensando no passado, perguntar: onde estive, enquanto vivia a minha vida?
Esta é a maior inquietação em ver que o tempo passou, e o medo de termos desperdiçado um tempo de ser, tão precioso.
Dulce Critelli
Prof.Filosofia PUC-SP
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