Ladeira abaixo
A vida se ajeita em qualquer lugar.
A normalidade. Tudo perfeito e igual a sempre, já secou a água em ruas que até ontem estavam alagadas. Ano que vem, tem mais. Assim é tratada a coisa: desaba, constrói de novo e deixa rolar...morro abaixo.
Um milagre atrás do outro e a vida se ajeita.
Afogados, eletrocutados e desabrigados passam ventando na folha do jornal de ontem. parece que basta ter havido um registro jornalístico dessa má sorte. Solução, não tem não.
Leite envenenado e aborto para os pobres que teimam em se reproduzir, entregando a prole aos quadros de soldados do tráfico.
"Do meu ventre não sai bandido!", protesta leitora carioca, favelada em carta contra as declarações do governador Sérgio Cabral.
"Pega [ o número de filhos por mãe ] na Rocinha. É padrão Zâmbia, Gabão. Isso é uma fábrica de produzir marginal", disse o governador.
E o jornal voa, embaralha no vento, vai servir de cobertor debaixo das marquises.
Crime é só o ato que envolve armas e tráfico? Quanto filho único, nascido em bairro "bom", não nos rouba? O aborto é solução também para esse crime?
Negligência é crime. A culpa pelo desabamento do túnel Rebouças não é da chuva é da prefeitura, que conhecia o risco e não informou, as operadoras do metrô, trens, barcas, nem a Polícia Militar.
O Rebouças não fez vítimas durante o "rush", em ponto crucial de ligação entre a zona norte a zona sul.
Não dá mais para contar só com milagres.
Cecilia Giannetti
cronista_FSP
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